O feijão não é o único item do cardápio brasileiro com forte alta de preços em 2016: o tradicional café com leite também está mais caro. O preço do leite longa vida subiu 18,52% este ano, até junho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial no país. Já o café teve alta de 9,32%. Quem gosta de adoçar com açúcar cristal, viu o preço saltar 16,29%. No mesmo período, o preço dos alimentos e bebidas avançou 7,30% e a inflação geral, 4,62%.
O aumento do preço do leite é explicado pelo início do período de entressafra, quando o desenvolvimento dos pastos é afetado, prejudicando a produção.
— A produção de leite normalmente cai neste período e a disputa pelos produtores de laticínios faz o preço subir. Só que neste ano houve um agravante. O milho e a soja, usados para completar a alimentação do rebanho quando piora a qualidade dos pastos, aumentaram de preço e o custo do produtor subiu — explica o consultor de mercado da Scot Consultoria Rafael Ribeiro de Lima Filho.
Levantamento da Gfk — que monitora preços de 35 categorias de produtos em 320 supermercados do país — mostra que o preço médio do litro do leite longa vida subiu quase 30% desde o início do ano e está em R$ 3,33 em junho, considerando as duas primeiras semanas do mês. Em janeiro, era R$ 2,61. É o maior nível do preço nominal em cinco anos, desde 2011.
Pelo site PesquisaPraMim, que faz levantamentos diários de preço, o litro de leite variava entre R$ 3,80 e R$ 4,29 em supermercados da Barra da Tijuca e do Recreio ontem.
— O leite é o tipo de produto que as pessoas não têm muito como substituir ou reduzir o consumo. Com isso, acabam cortando outros itens para garantir sua compra — afirma o diretor de atendimento da Gfk, Marco Aurélio Lima.
Mais do que apenas um produto, o salto no preço do leite afeta toda a cadeia de laticínios, que inclui itens como manteiga, queijo, iogurte e requeijão. O preço da manteiga disparou este ano, com alta de 41,89%. Já o iogurte subiu 7,33% e o leite condensado, 12,87%.
E nas próximas semanas o preço vai continuar em alta, segundo Lima Filho:
— Os preços devem ficar firmes pelo menos até julho e agosto. A partir de setembro, começa o período de chuvas, que favorece os pastos e a produção de leite.
No caso do café, a produção brasileira está em época de colheitas, mas os estoques mundiais do grão devem cair este ano, o que tem pressionado os preços. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que os estoques mundiais de café devem recuar 11% na safra 2016/17, para 31,5 milhões de sacas. Segundo o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Renato Garcia Ribeiro. É o menor nível desde a safra 2012/2013.
O preço do açúcar cristal, por sua vez, tem sido afetado pelas chuvas, que prejudicam a moagem da cana-de-açúcar, também de acordo com análise do Cepea. O movimento é reforçado pela alta no mercado internacional, em função das expectativas de déficit global de açúcar. No mês de junho, o preço ao produtor já avançou 12,05% segundo a Cepea, o que sugere efeitos mais à frente para o consumidor.
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