O mercado de pães industrializados encolhe em torno de 5% em volume neste ano e deve chegar a dezembro com vendas de 419 mil toneladas, de acordo com estimativa da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi). O recuo deve-se a dois fatores. Um deles é a retração do consumo decorrente da recessão. Outro é a mudança no comportamento do consumidor, mais interessado em produtos funcionais, de apelo saudável – contendo mais fibras, menos calorias, sem glúten, entre outras características.
Em 2016, as vendas de pães industrializados somaram 440,7 mil toneladas, com queda de 4,9% em relação a 2015. Em receita, houve aumento de 4,5%, para R$ 5,4 bilhões. A Abimapi espera para este ano estabilidade nas vendas em valor.
"Essa categoria crescia dois dígitos ao ano, mas com a recessão, muita gente reduziu o consumo de pão industrializado ou substituiu por outro alimento", afirmou Claudio Zanão, presidente da Abimapi. O executivo observou que parte dos consumidores trocou o pão de forma pelo pão francês vendido nas padarias. Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), o setor cresceu 3,08% em 2016, para R$ 87,2 bilhões. A entidade estima para 2017 um crescimento também na faixa de 3%.
A Euromonitor International estima que o mercado total de panificação - incluindo produtos industrializados e feitos nas padarias - encolheu 0,4% em volume em 2016, para 5,12 milhões de toneladas. Para 2017, a consultoria prevê queda de 0,2%, para 5,11 milhões de toneladas.
Zanão, da Abimapi, disse que os fabricantes têm buscado cortar custos para manter os preços congelados neste ano. Em 2016, o reajuste foi da ordem de 5%. Ao mesmo tempo, as companhias ampliaram a oferta de produtos e embalagens, para atrair consumidores. Os esforços têm se concentrado em pães com mais cereais, sem glúten, ou linhas artesanais.
O Grupo Bimbo, dono no Brasil das marcas Pullman, PlusVita, Nutrella, Ana Maria, Rap 10, Crocantíssimo e Laura, reforçou a oferta de embalagens menores e linhas com mais variedade de cereais. "Buscamos oferecer fórmulas com ingredientes que trazem saúde e sabor ao consumidor, tais como sementes, grãos, frutas e castanhas", disse Bruna Tedesco, diretora nacional de marketing, pesquisa e desenvolvimento e inovação do grupo Bimbo no Brasil.
"Os investimentos em novos produtos têm nos garantido um crescimento de dois dígitos por ano", afirmou Bernardo Serna, presidente da Bimbo no Brasil. Sem citar um número específico, ele disse que as vendas em 2017 crescem dois dígitos. A Bimbo fatura, R$ 1,5 bilhão por ano no país, em média.
Serna acrescentou que o melhor desempenho no ano tem sido da linha de pães Artesano, um pão de forma com aparência de artesanal e com fatias mais grossas que o pão de forma tradicional. "Em seis meses de lançamento, o Artesano já é o pão de forma mais vendido no varejo", disse Serna. A Bimbo pretende lançar uma nova versão desse pão no fim do ano, com foco nas festas de fim de ano.
De acordo com dados da Euromonitor International, o Grupo Bimbo lidera o mercado de pães industrializados, com 33,3% de participação na categoria de pães de forma, e participação de 62,3% em pães achatados (com o Rap10). Em pães de forma, a Wickbold (que também é dona da Seven Boys) detém 15,2% de participação. A Panco é a terceira colocada, com 14,1% do mercado.
Os pães industrializados representam 18% do mercado total de pães no Brasil. Considerando o mercado total, a Bimbo ainda lidera, com 3,5% de participação; em seguida estão a Wickbold (1,6%) e a Panco (1,5%).
Ainda de acordo com a consultoria, enquanto o mercado total de pães cresceu 8,7% em valor no ano passado, para R$ 65,2 bilhões, as categorias de pães mais saudáveis (integrais e com cereais) cresceu 16% no ano, e as linhas de pães sem glúten aumentaram 19%. A Euromonitor também destacou o avanço da demanda por linhas com grãos (como amaranto, quinoa e milho) e sementes (como chia e linhaça), normalmente adicionados ao pão para aumentar o teor de fibra ou proteína.
A Wickbold, por exemplo, ampliou as linhas de pães com cereais e frutas e lançou neste ano uma linha de pães sem glúten. Procurada, a companhia não quis dar entrevista. A Panco também desenvolveu neste ano uma nova linha de pães e bolos integrais. A empresa também não respondeu ao pedido de entrevista. Em fevereiro deste ano, a Wickbold fechou uma fábrica da Seven Boys em Porto Alegre e transferiu a produção para São Paulo.
A procura crescente dos consumidores por pães funcionais também atraiu a atenção da Latinex Internacional, de Curitiba. A empresa, dona da marca de alimentos funcionais Fit Food, lançou há três meses no país uma linha de pão integral com alta concentração de proteína. Cada fatia contém 11 gramas de proteínas (de trigo, ervilha e leite).
Sérgio Pinto, diretor de marketing e inovação da Latinex, disse, sem citar números, que a linha tem tido boa aceitação no varejo e que a companhia trabalha agora para ampliar a distribuição do produto para varejos de pequeno e médio portes. Atualmente, a linha é distribuída em grandes redes de supermercados e lojas de produtos naturais.
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