Um olho no fogão, o outro na previsão do tempo. Quem está no ramo de delivery, sempre torce contra o sol. Em períodos chuvosos, como os atravessados neste janeiro, os pedidos em restaurantes que fazem entregas chegam a dobrar. E o faturamento acompanha, afastando a nuvem negra da crise econômica.
Conforme o presidente da Associação de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, a média de elevação nos pedidos quando um pé d’água começa é de 50%. No restaurante dele, o Maria das Tranças, um domingo de chuva aumenta em até 100% as entregas. Por isso, o empresário não tira os olhos dos aplicativos de meteorologia.
Em um domingo de sol, quatro motoqueiros atendem ao Maria das Tranças, com unidades na Savassi e no bairro São Francisco. Se a previsão é de chuva, são convocados seis, imediatamente. “Pode aumentar mais, dependendo do fim de semana. O frango ao molho pardo, nosso carro-chefe, tem tudo a ver com domingo chuvoso”, conta Rodrigues.
No restaurante Paracone, com duas casas no bairro Santa Efigênia, os fins de semana chuvosos engordam em cerca de 30% o caixa. De acordo com o proprietário da casa, Lindoval Conegundes, são cerca de 30 entregas por dia. Aos sábados e domingos, mesmo sem chuva, o número salta para até 90.
“Dizemos que é só chover que todo mundo fica com vontade de comer pizza”, brinca Conegundes. Além da pizza, o Paracone entrega peixes, porções outras e refeições tradicionais, mais demandadas na hora do almoço. “Como fazemos promoções novas a cada 15 dias, os produtos mais pedidos costumam mudar”, afirma. As bebidas também têm boa saída, segundo o dono do restaurante.
Exigência
Basta começar a chover para o gerente do estabelecimento indiano Maharaj, José Geraldo Oliveira, reprogramar o dia. No restaurante, os pedidos aumentam 25% quando o tempo fecha. E o cliente é exigente.
De acordo com Oliveira, quem pede comida em casa é extremamente atento à embalagem e ao tempo de entrega. “Se não o cliente não ficar satisfeito, ele liga e reclama mesmo”, diz.
A apresentação também é fundamental para a gerente geral do restaurante italiano Maurizio Gallo, Renata Oliveira. Segundo ela, o restaurante preza muito pelo acondicionamento e pela temperatura do alimento. A estratégia tem dado certo.
O ticket médio do cliente do delivery costuma ser até maior do que aquele que vai ao restaurante. “Quando chove, o telefone não para de tocar. As pessoas pedem comida, bebida, sobremesa, tudo. Como vendemos congelados, algumas ainda pedem algo para outro dia”, comemora.
Clientes também querem economizar pedindo em casa
Não é só por mais comodidade que o consumidor pede comida em casa. E nem somente por causa da Lei Seca, que pune motoristas que dirigem alcoolizados. De acordo com Bruna Rebello, gerente de marketing do aplicativo de delivery Pedidos Já!, em muitos casos fica mais barato ligar para um restaurante e pagar o frete do que sair para jantar.
“A pessoa teria que pagar gasolina, estacionamento, 10% de serviço para o garçom. Pedindo em casa, ela pode comer o mesmo, gastando menos”, afirma Bruna. Ela comenta que os restaurantes parceiros do aplicativo ampliam muito a quantidade de pedidos e, por isso, é comum que as casas façam promoções exclusivas para o app. Assim, elas ficam mais competitivas.
O proprietário do J-San, Lucas Lacerda, restaurante japonês com unidades no Buritis e no Barreiro, concorda. Segundo ele, os aplicativos aumentam em até 20% as entregas. A unidade do Barreiro trabalha exclusivamente com delivery. Do local, saem cerca de 30 pedidos por dia. Em épocas de chuva, o número sobe para 40.
Na casa do Buritis, o delivery é recente e ainda não há uma estrutura exclusiva para o atendimento em domicílio. Mas Lacerda diz que a meta é criá-la em breve. “Com um motoqueiro no Buritis eu consigo fazer mais entregas do que dois no Barreiro. No Buritis são muitos prédios, temos que andar menos. É um ponto ideal para o serviço”, observa.
Bebidas
Nos últimos anos, os deliveries de bebida chegaram com tudo no mercado belo-horizontino. No SOS Goró, as entregas são realizadas até 3h30 da madrugada em alguns dias e atendem bairros em um raio de 10 km da Savassi com taxa de entrega fixa: R$ 9. Em média, são realizadas 300 entregas por semana. “Aumenta muito quando chove. Não consigo nem mensurar a quantidade”, conta o gerente geral Vitor Abdo.
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