"Distinção" é um termo que não faz parte do vocabulário da crise financeira nacional, que, nos últimos anos, tem mudado não apenas os hábitos dos consumidores com menor poder aquisitivo, como daqueles detentores de maior renda. Em Minas Gerais, com a instabilidade econômica do País, boa parte dos cidadãos incluídos nas classes A e B, situadas na ponta da pirâmide social, também tem procurado manter um planejamento rígido para conter as despesas e se proteger diante das oscilações do mercado, mesmo em uma situação aparentemente mais confortável.
Em pesquisa divulgada ontem pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), realizada apenas com consumidores das duas classes, 36,7% dos entrevistados, a maioria, afirmaram que vão utilizar o 13º salário para quitar dívidas ou pagar os compromissos típicos do mês de janeiro - como matrícula escolar, Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) -, e 24,5% pretendem resguardar o dinheiro em alguma aplicação ou poupança. O analista de mercado da FCDL-MG, Vinícius Carlos, explica que o comportamento cauteloso é resultante da insegurança ainda existente entre a população quanto ao quadro econômico atual. As tradicionais compras de Natal (11,2%), por exemplo, aparecem em segundo plano em termos de uso do abono natalino, assim como o gasto com as férias (14,3%).
"Os entrevistados apontaram que nesse cenário que está se desenhando, tem pontos positivos, mas ainda sem melhoras importantes dos indicadores macroeconômicos. E com a crise política anterior, eles ficaram mais cautelosos esperando uma definição no ambiente. Estamos em uma situação de redução de juros, inflação em patamar mais estável, mas isso ainda não foi suficiente para mitigar o peso do desemprego e da queda da renda, que impacta no desenvolvimento", avalia Vinícius Carlos. Conforme a análise do especialista, os consumidores das classes A e B costumam ter mais acesso à informação e aproveitam esse conhecimento extra para se organizar e assegurar a manutenção do seu poder de compra realizando investimentos diversos.
"Esse planejamento, as classes A e B fazem bem, buscando novas formas de rendimento e de proteção ao poder de compra, seja por via de novos investimentos pautados em um plano de negócios ou via conhecimento de produtos/investimentos financeiros oferecidos pelas instituições financeiras, que garantem certa rentabilidade capaz de mitigar, em média, as perdas oriundas do processo inflacionário. Ou seja, é ficar atento ao mercado, buscando informações e as referenciando com o custo de oportunidade de cada um e seus valores", destaca. As mulheres, na comparação com o sexo oposto, estão com um planejamento financeiro mais rígido, segundo a pesquisa. Entre os destinos para o 13º salário, a maior parte das mineiras aponta a aplicação do recurso (28,9%), o pagamento de dívidas (26,7%) e a quitação dos compromissos de janeiro (22,2%). Os homens também vão utilizar o benefício do fim de ano para aplicação (20,4%), mas se mostram mais suscetíveis aos gastos do período com férias (18,5%) e compras de Natal (16,7%).
Tíquete menor
As duas classes sociais, no entanto, afirmam que devem reduzir o número de presentes para este ano. Entretanto, elas prometem manter o tíquete médio natalino em patamar elevado. Segundo o levantamento da FCDL-MG, 31,8% dos entrevistados gastarão de R$ 500,01 a R$ 1.000,00. Um dado curioso apurado pela pesquisa é que mesmo o consumidor de maior poder aquisitivo tem sinalizado uma disposição maior para experimentar outros produtos, marcas e novidades. Neste ano, os principais fatores econômicos que impactaram a confiança dos consumidores entrevistados foram crise política (36,3%), desemprego (16,1%) e queda da renda (14,5%).
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